Voluntários unem forças para frear mortes por Covid-19 na periferia de Fortaleza
Distribuição de máscaras para a população vulnerável mobiliza coletivos, entidades cristãs e cooperativas
Carro estacionado, porta-malas aberto e em pouco tempo eles já começam a formar fila. Homens, mulheres e crianças da periferia de Fortaleza, à espera de máscaras e refeições. A distribuição é feita por equipes de entidades que executam ações direcionadas à população de rua e outros grupos em vulnerabilidade social. Mais de três mil máscaras já foram distribuídas, desde o final de julho. A destinação de recursos pelo MPT no Ceará garantiu a compra da matéria-prima. Quem assina a fabricação são as costureiras da comunidade do Lagamar.
Realizada em parceria com a Fundação Marcos de Bruin e a cooperativa FavelAfro, a inciativa tem o objetivo de reduzir as consequências do abismo socioeconômico, na capital cearense: dos dez bairros com mais mortes pela doença pandêmica, todos estão na periferia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O bairro Conjunto Ceará II tem hoje a maior taxa de letalidade pelo Sars-CoV-2. A cada dez casos confirmados, mais de sete (73%) chegam a óbito.
Foi para receber a doação de 500 máscaras que Glaydson Mathias, da Ação Social Fortaleza Independente (ASFI), compareceu à sede da Fundação, na comunidade do Lagamar. “Sabemos como é importante o uso desses equipamentos de proteção individual nesse momento e muitos dos nossos irmãos não têm a possibilidade financeira de conseguir. Quando vem uma doação como essa, é sempre com grande alegria e felicidade que a gente recebe para levar àqueles que não têm acesso”, afirma.
A distribuição também contemplou o Coletivo arRUAça, que atua para possibilitar o empoderamento e emancipação de populações socialmente vulneráveis. Representante do coletivo, André Foca destaca que pessoas em situação de rua estão muito expostas à COVID-19. Daí a necessidade de proteger a saúde dessas pessoas. “Estamos levando (as máscaras) aos territórios onde visitamos constantemente e onde fazemos essa atuação, na luta, na educação e na cultura pela dignidade do povo da rua”, comenta.
Já a espiritualidade atrelada às causas humanitárias é o foco na atuação de grupos cristãos, como o Amoris Laetitia (a "Alegria do Amor"). Voluntários dedicam tempo para preparar e distribuir o “Sopão na Praça", para população vulnerável. “Estamos aproveitando para entregar as máscaras também. Gostaríamos muito de agradecer essa doação em nome do projeto e das costureiras”, ressalta Adriana Teixeira, representante do grupo. Outro grupo envolvido na mobilização vem do bairro Lagamar: é o “Jovens em Busca de Deus” (JBD). Uma equipe de dez voluntários assumiu a missão de distribuir parte das máscaras da comunidade.
Abismo social
Em todo Brasil, comunidades e periferias de grandes cidades sofrem de forma mais grave os impactos da pandemia do novo coronavírus. Os efeitos são diversos e estão relacionados tanto às consequências econômicas da crise como aos impactos sanitários da doença. Seja pela impossibilidade de isolamento em moradias precárias, seja pela falta de acesso à saúde pública.
Desde maio, os dez bairros com o maior número de mortes ocasionadas por complicações da Covid-19 são da periferia do Fortaleza, segundo monitoramento semanal realizado pela SMS. Cenário diferente do início da pandemia. A Regional II é a que concentra mais casos confirmados: são quase 9 mil. Mas a letalidade tem sido maior nos bairros da Regional V.
Destinações
Em todo o país, o Ministério Público do Trabalho (MPT) já destinou cerca de R$ 284,9 milhões a ações de enfrentamento à Covid-19, segundo levantamento publicado nesta segunda-feira (17). Garantidos por decisões da Justiça do Trabalho ou por acordos extrajudiciais (Termos de Ajustamento de Conduta – TACs), os recursos vêm sendo repassados a hospitais, associações de saúde, universidades, entes da federação, entre outros, para a execução de ações de enfrentamento ao coronavírus.
