Projeto estimula inclusão de jovens negros no mercado de trabalho

Pacto pela equidade étnico racial mobiliza empresas de grande porte, agências de publicidade e escritórios de advocacia

Uma pesquisa do Instituto Ethos aponta que, nas 500 maiores empresas brasileiras, negros de ambos os sexos representam 34% do quadro de empregados. A disparidade social é ainda mais evidente entre as mulheres negras. Pouco mais de 8% ocupam cargos de supervisão. Considerando o quadro executivo, a presença cai para 0,4%.

Os dados revelam um descompasso, considerando o ingresso expressivo de negros e negras nas universidades nos últimos anos. "A ausência da justa representatividade no mercado de trabalho contribui de forma decisiva para a disseminação da pobreza, da marginalidade, propagando a discriminação", ressalta a procuradora do Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE) Ana Valéria Targino.

Como parte do Projeto Nacional de Inclusão Social de Jovens Negros no Mercado de Trabalho, do MPT, foi realizada no dia 11 de setembro uma audiência com representantes de agências publicidade, escritórios de advocacia e empresas de grande porte no Ceará. Os participantes deverão apresentar, até 11 de outubro, as práticas já planejadas e adotadas para a promoção da igualdade racial relacionadas aos jovens universitários. Foi solicitado também o levantamento do número de trabalhadores autodeclarados negros (pretos e pardos) ativos, quais os cargos ocupados, o nível educacional, e o percentual em relação ao total de empregados.

Equidade

Os segmentos foram selecionados pelo potencial de promoverem a inclusão étnico racial em suas estruturas. "As agências de publicidade, por exemplo, são formadoras de opinião por excelência, portanto precisam entregar à sociedade um produto diverso do ponto de vista étnico racial", pontua a procuradora Valdirene Silva de Assis, titular da Coordenadoria de Promoção da Igualdade e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), no MPT em São Paulo, e gerente do projeto. "Esse produto precisa também ser elaborado a partir de um olhar diverso, para que as campanhas publicitárias propaguem e amplifiquem essa mensagem pró-equidade étnico racial", acrescenta.

Mesma lógica se aplica aos escritórios de advocacia, segundo a procuradora. "É muito importante que os operadores do Direito entendam do que se trata (o projeto), compreendam sua importância e também realizem políticas de equidade étnico racial", destaca Valdirene. "É muito mais fácil assessorar e defender tais políticas quando tal diversidade está presente no seu quadro funcional", completa.

Inserção Socioprodutiva

O racismo limita oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional de milhões de pessoas, com prejuízos à garantia de direitos e ao potencial de inserção socioprodutiva. No universo do trabalho, a discriminação e o preconceito se traduzem em disparidades salariais, assédio moral etc. "Por mais que tenhamos avançado, determinados processos de seleção, por exemplo, ainda estão circunscritos nesse olhar discriminatório", evidencia a professora Zelma Madeira, coordenadora de políticas públicas da igualdade racial do Ceará.

Professora da Universidade Estadual do Ceará, Zelma destacou na audiência os déficits históricos de igualdade de oportunidade em razão da raça/cor e de outras variáveis identitárias. Ressaltou, ainda, a importância estratégica de ações afirmativas para inclusão socioprodutiva. "É promover a diversidade, é enxergar a juventude negra como possibilidade de engrandecer as empresas e fazer com que prosperem", concluiu.

 

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