Estudantes do Ceará assistem ao filme “Pureza” e refletem sobre trabalho escravo

O Cine São Luiz, tradicional cinema de Fortaleza, recebeu nessa terça-feira (30) uma sessão do filme "Pureza", acompanhada de reflexões sobre trabalho análogo à escravidão. O evento contou com estudantes matriculados em instituições de aprendizagem profissional da capital e estudantes do 9º ano e do ensino técnico dos municípios de Acarape, Baturité, Canindé, Cascavel, Caucaia, Eusébio, Maracanaú, Maranguape, Ocara, Pacajus, Pindoretama, Redenção e São Gonçalo do Amarante. Ao todo foram mais de 850 pessoas.

A iniciativa faz parte do projeto Cinema, Educação e Cidadania (Cineci), idealizado pelo Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE), por meio da Rede Peteca, e que visa proporcionar o acesso cultura e a formação de crianças e adolescentes, por meio do cinema. A ação busca estabelecer parcerias entre escolas, entidades de aprendizagem profissional, e órgãos e entidades ligadas à cultura para alunos e aprendizes tenha acesso ao cinema. O CINECI tem fundamento no art. 26, § 8º da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), que prevê o acesso ao cinema de produção nacional aos alunos das escolas públicas de educação básica.

Antes da exibição do filme ocorreu um debate sobre trabalho escravo. O procurador do Trabalho Antonio de Oliveira Lima destacou as conexões entre trabalho infantil e trabalho escravo: "mais de 90% dos trabalhadores resgatados de situações análogas à escravidão são oriundos do trabalho infantil".

A procuradora do Trabalho Christiane Nogueira, vice-coordenadora regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), lembrou da importância de se reconhecer as características do trabalho escravo contemporâneo: "não são mais pessoas acorrentadas, como vemos nos livros de História. São trabalhadores que são submetidos à jornada exaustiva, em condições degradantes, com cerceamento da liberdade e servidão por dívidas".

Também estiveram presentes no debate José Crisóstomo, auditor fiscal do trabalho; e João Tadeu Lustosa, secretário executivo da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS/CE).

 

Ator

Alberto Silva Neto é ator e no filme interpreta João Leal, responsável por atrair trabalhadores nas cidades como mão de obra em fazendas. O ator também esteve presente na exibição do filme e revelou considerar João Leal o personagem mais importante de sua carreira até o momento, tanto pelo valor artístico quanto por sua mensagem de crítica social. "Eu jamais poderia cair na armadilha de fazer o estereótipo do mal porque o aliciador é aquele cara que seduz o trabalhador, ele brinca, ele cuida, deixa um dinheiro. Mas depois que recebe o pagamento nem olha mais no rosto dos trabalhadores", diz Alberto.

Durante as filmagens, o artista conviveu com trabalhadores resgatados da escravidão e conheceu de perto uma problemática social da qual antes ele tinha pouca noção. "Foi muito chocante e foi muito importante também. São pessoas que carregam marcas de sofrimento no corpo e nas expressões, mas ao mesmo tempo são pessoas que não perderam a esperança, são amorosas. Eles passaram informações que foram fundamentais para a criação do personagem, inclusive adicionando falas ao roteiro", conta Alberto.

A atuação no filme permitiu, ainda, que o ator se tornasse um admirador da atuação dos procuradores, auditores e todos os profissionais que formam a rede de combate e prevenção ao trabalho análogo à escravidão. "Eu tenho aprendido a admirar e reconhecer a importância dessas pessoas. São pessoas que cumprem sua missão profissional acreditando que aquilo tem um sentido e isso é imprescindível", conclui Alberto.

Repercussão

Durante a exibição do filme, a trama contagiou o público, que expressava o sentimento a cada momento.

A atriz Dira Paes, protagonista do filme, ficou emocionada com a ação: "um momento histórico como esse...eu daqui só vendo as fotos e os vídeos, ouvindo relatos e essa manifestação pública, essa catarse coletiva. Que emoção! Gostaria muito que a gente pudesse conseguir fazer isso em muitas outras localidades. Obrigada a todos os envolvidos".

O diretor Renato Barbieri também ficou entusiasmado com a repercussão: "confesso que nunca imaginei algo tão impactante. É de arrepiar!".

Filme

Com direção de Renato Barbieri, o drama biográfico conta a história de uma abolicionista contemporânea, Pureza Lopes de Loyola (Dira Paes), mãe de Abel, desaparecido depois de buscar trabalho para melhorar de vida. Sem notícias, ela vai à procura do filho e acaba se deparando com uma situação de exploração e de trabalho análogo à escravidão.

https://purezaofilme.com.br/

 

 

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